O carro

Por questões óbvias, a escolha, compra e preparação do carro, nosso futuro companheiro diário para os próximos meses, mereceu destaque. Desde o início, pensamos em um Land Rover. Agora, qual modelo? Depois de chegar a cogitar ir de Discovery, ficou claro que o carro deveria ser um modelo Defender, pois o Discovery possui muita eletrônica embarcada, o que dificultaria qualquer manutenção em um lugar mais ermo. “– Vamos comprar um Defender!”. Não passava pela nossa cabeça comprar um carro usado, pois, para iniciar tal jornada, parecia óbvio que o carro tinha que ser o mais novo possível, ou seja, zero km! Daí até finalizar a compra foram poucas semanas. Logo estávamos com um Defender branco, zero km, na garagem: o “Pezão”!

O nome Pezão surgiu da interessante mistura de Big Foot, comumente usado para denominar esses carros com rodas enormes, que passam por cima de tudo (nome que por sua vez tem origem no Pé Grande, lendário ser do Alasca), com seu “primo” Abominável Homem das Neves, chamado de Yéti, que é a lenda do “Pé Grande” do Himalaia, que é branco, como o Defender zerinho em folha.

Porém, algumas faltas de informação surtem efeitos inesperados, e, para nossa surpresa, quando comecei a me comunicar com os potenciais preparadores para o carro, me deparei com a triste notícia de que o Defender 09, equipado com um motor Puma, tinha recebido muita eletrônica embarcada e, na verdade, tinha a mesma característica de dificuldade de manutenção que o Discovery, guardadas as devidas proporções, pois certamente o Discovery é mais sofisticado. De qualquer forma, ficou claro que o Defender 09 era um projeto mais recente, e por isso mais sujeito a falhas, e cujos diagnóstico e manutenção dependiam de uma conexão com um computador que só existiria em concessionárias Land Rover, o que para nós não seria exatamente na esquina!

Após alguns dias de pensamentos sobre o que fazer, ficou claro: “- vamos ter que comprar um modelo antigo...”. Já na primeira pesquisa, achamos um 2005/2006, com o motor que queríamos, o 300 Tdi, e a informação de que estava com somente 7.000 km rodados! Parecia impossível, mas, após a vistoria e a confirmação da rodagem por dois mecânicos, o carro era nosso. E era branco! O que, após alguma reflexão e quase um apelo meu a Du, foi também batizado de Pezão! Em uma semana lá se foi o Pezão II para a obra de adaptação na empresa JMA Simões. A JMA é uma empresa originada da Carrocerias Quintino, uma grande e tradicional oficina de reformas de ônibus. Marcos Simões e seu pai, Sr. Luiz Simões, estão à frente do negócio e aceitaram o desafio de tentar algo novo: preparar um Land Rover. Mais do que possíveis experiências em Defenders, o que pesou na decisão de levar o carro para lá foi o know-how deles em lidar com peças de alumínio, comum em ônibus, e, principalmente, a empolgação e fibra de se construir algo novo. A relação com a JMA foi um dos pontos altos da fase de preparação e, para mim, um dos fatores de sucesso do projeto.

Os projetos de adaptação foram tomando corpo nas semanas seguintes. Eles foram divididos em quatro blocos: armários, hidráulico, pneumático e elétrico.

O grande “pulo do gato” do projeto dos armários foi a idealização, com a ajuda do Robert e do seu novo carro customizado para o Projeto Brasil Por Terra, de duas portas para serem colocadas no lugar das janelas laterais traseiras. Desta forma, poderíamos acessar todos os volumes da parte de trás do carro por essas portas e pela original traseira. Sem “corredores” internos não perderíamos nenhum espaço. Depois precisamos somente definir os módulos de cada armário e organizar tudo em caixas. Outra boa idéia foi a substituição de algumas madeiras por chapas de alumínio, o que reduziu significamente o peso e o volume ocupado pela estrutura. Ponto para o Marquinhos! Após alguns revestimentos e acabamentos, além da confecção de duas caixas de alumínio fixas, os armários estavam prontos.

O sistema hidráulico, se é que algo tão simples mereça esse título, teve como principal item a confecção de um tanque de aço inox de cerca de 90 litros posicionado no local onde anteriormente os passageiros do banco de trás colocavam seus pés. Como o banco traseiro foi removido, este local tornou-se muito apropriado, tanto pelo tamanho como pelo fato de ser o local mais baixo da parte traseira do carro, ajudando na sua estabilidade. A elevação da água será feita pela pressurização do tanque, o que nos pareceu mais adequado do que uma bomba elétrica, tendo em vista que sempre fez parte do projeto do carro a existência de um compressor. Um ponto alto do sistema hidráulico foi a idéia de termos água quente. Depois de ouvir algumas histórias e falar com algumas pessoas, ficamos sabendo que já tinham feito isso com o aquecimento da água através do escapamento. Dividimos, então, o tanque em dois e colocamos uma tubulação de cobre, em um fluxo fechado, em um deles. Novamente não precisaríamos de bomba elétrica, pois a diferença de densidade da água após o início do aquecimento garantiria a circulação da água.

O conjunto pneumático não teve mistérios. Foi composto de um pequeno compressor automotivo 12V da Warn, com reservatório de 1,3 litros. Além de elevar a água dos tanques, ele será usado para encher pneus e para limpeza, além de potencialmente permitir ao carro receber um bloqueio de diferencial com acionamento pneumático, o que faz parte da idéia de evoluir a preparação do carro na Europa para encararmos a África.

A parte elétrica foi composta de alguns elementos extras, como duas baterias heavy duty, um isolador e um inversor de 800W para gerar 110V. As tomadas 110 e 12V, os voltímetros, bem como todas as válvulas, termômetros, etc., dos demais projetos, foram organizados em dois painéis colocados próximos às portas traseiras de maneira que todo o acionamento dos sistemas ficou concentrado neles. Esses painéis ajudaram a dar um ar mais profissional em todo o conjunto e, para mim, são motivo de grande orgulho.

Além das adaptações acima, foi preciso instalar alguns itens “off Road”. A vantagem do Defender é que não são necessários grandes fortalecimentos, pois o carro já é bem robusto. Entre os principais itens, foram instalados um guincho de 12000 libras e jogos de amortecedores e molas Constant Load. Demais, somente alguns protetores e a troca por pneus BF Goodrich A/T, além de uma barraca de teto e bagageiro.


 
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