Árido, diferente e belo – Chile E-mail
Ter, 09 de Fevereiro de 2010 22:38
29/01 a 08/02/2010

Chegamos ansiosos ao Chile. Na verdade, ao Atacama, pois tínhamos tido somente uma pequena amostra na Argentina. Expedições de vinte e poucos dias saem do Brasil somente para visitar os pontos de interesse ao redor de San Pedro de Atacama, então, há de valer à pena. E valeu! Sem dúvidas! Indico a qualquer brasileiro passar pelo menos uma semana neste paraíso seco, empoeirado e esplendoroso.

San Pedro é uma cidade que já sofreu um certo processo de “sofisticação”. Quase uma Búzios jogando-se umas trezentas mil toneladas de poeira em cima. Reparem que é a segunda vez que falo da poeira. Mas realmente é, digamos, seco! No dia da nossa chegada fomos recebidos por um vento que levantava a areia e nos sufocava, ao mesmo tempo em que nos cegava. Impressionante! Mas reforço a indicação acima com vigor! Vale a visita! Só venham preparados pra tossir um pouco...

Novamente pipocamos pro camping. Estávamos com muitas variáveis de adaptação rodando, e mais uma não ajudaria em nada. Não tem jeito, vamos deixar os acampamentos para os países mais desenvolvidos e aproveitar que os hotéis por aqui são um pouco mais baratos. Fomos para uma pousada simples, e com um pessoal boa gente. Chegamos totalmente moídos! A travessia dos Andes foi cruel. Gargantas secas, narizes sangrentos e lábios rachados que impediam alargar os sorrisos que, felizmente, estão sempre presentes a cada lugar novo. Chegamos. Comemos. Dormimos.

O dia seguinte foi de reconhecimento. Saímos a pé para conhecer a cidade, minúscula, e conseguir mais algumas informações para complementar as que já tínhamos. Esbarramos em uma certa má vontade chilena, mas fomos em frente e conseguimos fechar quais as atrações da vizinhança que visitaríamos. Mas estava claro que daríamos uma quebrada no ritmo da viagem, pois estávamos com uma média de mais de quatrocentos quilômetros por dia. Estava na hora de o camelo beber água! Coisa rara por aqui, por sinal... O camelo e a água. Neste mesmo dia fomos ver o pôr-do-sol no Valle de La Luna. Sensacional! Chegamos com quase uma hora de antecedência, subimos com todo o apetrecho fotográfico, ou vocês acham que vida de fotógrafa e assistente de fotógrafa é fácil?!, e pegamos um lugar muito bom. O vale é  fantástico! Não sei se o nome vem da vista da lua ou do cenário que parece solo lunar, mas ambos os nomes fariam jus! Novamente nossa fotógrafa deu show e registrou muito bem o que os olhos demoravam a crer! Um pôr-do-sol divino. Havia um número enorme de pessoas na platéia. Impressionante. Cada hora um novo alpinista se oferecia pra começar a subir a montanha que achamos que seria, pelo menos um pouco, privada. Mais uma qualidade para ser a Búzios do Atacama: você nunca está sozinho!

O sono foi uma secura total! Acordadas noturnas para beber água, colocar soro no nariz, toalha molhada no quarto... No limite da apelação valeu até molhar o quarto todo, com copos de água sendo arremessados nas paredes e nos tapetes, isso pra depois voltar a dormir e sonhar que alguém enfiava uns alfinetes no meu nariz a cada respirada... Impressionante! E de manhã?! Tudo seco! Não é à toa que o Atacama é considerado o mais seco do mundo. Há uma parte do deserto que parece que possui a umidade cem vezes menor que o Saara. Reza a lenda...

No outro dia saímos com o Pezão pra dar uma volta. Fomos primeiro na Laguna Cejar, que é formada por quatro lagoas em cima do sal. Ou seja, a água é totalmente saturada de sal! E o que é melhor: se puede mergulhar! Vamos em frente! Fizemos algumas fotos, esperando uns e outros darem um espaço pra vocês não acharem que a lagoa era a Rodrigo de Freitas, e depois lá foi a Du pra dentro d’água! Pulou igual a uma perereca de costas e molhou toda a cara e os olhos no sal! Teve um treco, com direito a cuspidas e xingamentos! Depois de recomposta, curtiu a sensação de boiar bem mais que o normal. Válida experiência. Depois fui eu, bem mais devagar, fazendo valer o aprendizado do sofrimento alheio. Basicamente o mergulho tem a vantagem de, sem dar pé e sem bóias, conseguir segurar tranquilamente uma lata de cerveja. Isso ilustra bem... Depois do mergulho, secamos em 0,3 segundo, e logo estávamos com uma camada grosseira de sal em todo o corpo. Aí o Pezão deu show e nos proporcionou uma ducha de água doce, pra inveja do povo ao redor!

Salgados e dessalgados igual bacalhaus, partimos para a Laguna Chaxa, onde há um excelente ponto para fotografar flamingos. Muito bom! Paramos ao sol de meio dia para uma boquinha embaixo das escassas sombras do Pezão. Dividimos a sombra, porque no sol estava uns mil graus e não queríamos que os bacalhaus passassem do ponto.

Rodamos um bocado e chegamos ao final do dia em duas lagoas que certamente demorarão a serem batidas por outras paisagens. As Lagunas Miñiques e Miscanti proporcionaram ao entardecer um cenário fantástico de paz e beleza. Dezenas de flamingos, gaivotas e vicunhas coravam nossas fotos. Demais!

Mais um dia e aproveitamos para dar outra puxada no freio e ficar mais pela cidade. Demos somente uma volta de umas duas horas de bicicleta no Valle de La Muerte. Ou pelo menos o que achávamos que seria ele, já que não tinha indicação. Porém, após vinte minutos dentro de um vale de uns dez metros de largura, por uns vinte de altura, totalmente seco e aparentemente instável, pensamos: “É aqui!”. Dois segundos depois fez um barulho, que poderia ser ou não uma acomodação do terreno. Mais dois segundos e já estávamos fora de lá! Pra que arriscar??!

Na madruga do dia seguinte, madruga mesmo!, acordamos quatro da matina!, fomos visitar os Geysers de El Tatio. São fantásticos geysers, formados pelo aquecimento de um rio subterrâneo por partes mais quentes da terra que lá afloram, quase um vulcão. Em determinada hora do dia, no caso, bem cedo, às sete da manhã, os geysers entram em erupção! Uma cena incrível de água e vapor sendo borbulhados e jogados a três metros de altura em alguns deles! Valeu a madrugada!... E valeu o frio! Chegamos lá com zero grau! Cariocas no frio são realmente um fracasso... Certa hora a Du me olhou com um olhar de pânico. Vi que ela estava com as mãos junto ao peito e os olhos bem abertos. Ela realmente estava com medo que os dedos dela estivessem congelando. A mão doía um absurdo! Novamente nosso amigo de metal nos salvou, com o ar quente, em uma guarida de quinze minutos enquanto tomávamos um café. Quem chegasse naquela hora ia se deparar com a bizarra cena de nós dois, dentro do Pezão, com as mãos em cima das saídas do ar quente como se fossem uma lareira! Como disse... carioca no frio é um fracasso! Fizemos uns vídeos maneiríssimos que, por total incompetência do escritor e mecânico da expedição, estão meio que perdidos... Pena. Mas já acertamos os detalhes digitais, ou seja, praticamente joguei a filmadora fora, e daqui pra frente tudo vai ser diferente... Vou filmar com a máquina fotográfica menor!

Para o Pezão, a ida nos Geysers foi uma tortura! A estrada é composta de quilômetros e quilômetros de pequenas costelas que fazem o carro trepidar a qualquer velocidade que seja diferente de parado! Esvaziamos os pneus, o que deu uma melhorada, mas mesmo assim era brabo. Foi uma tortura pra mim também. Fiquei moído, pois ida e volta deram seis horas de saculejo... Una mierda!

Os próximos dois programas em San Pedro foram a visita ao observatório e a ida à Bolívia. Ambas apelamos pra excursão, pra facilitar. A visita ao observatório foi demais! Um astrônomo francês louco à pampa comprou um terreno e montou um observatório simples, com uma casa pequena e uns telescópios do lado de fora. Chegamos lá de ônibus e entramos na casa. À luz de uma única vela ele deu algumas boas explicações sobre o universo. Vibrei! Totalmente Carl Seagan! Depois fomos pra fora e aí que estava o truque: após alguns minutos à luz de vela, nossos olhos estavam abertos e, quando saímos... Incrível! O céu tinha milhares de estrelas a mais! Muitas mesmo! Parecia outro céu! Não dava pra identificar muito rapidamente as estrelas que estávamos acostumados a ver! Uma nuvem de estrelas formava uma faixa no céu, de um horizonte ao outro. Era a Via Láctea! Depois mais duas pequenas nuvens ao lado: mais duas galáxias distantes. Foi demais! O francês louco, que por sinal ficou dando em cima da Du, (parêntese longo - a Du vai negar! Mas vamos ao fato: depois de dizer que brasileiras são calientes, o cara queria fazer uma graça com o público e simular como cantar uma mulher mostrando as estrelas. Cheio de coroa sozinha no evento e ele escolhe quem? Não deu outra! Ainda vira pra mim e pergunta: “Are you jelousy?!”. Respondo: “Yes. I’ll be close.” É ruim!) usava uma caneta de laser utilíssima! Ele conseguia apontar facilmente cada estrela no céu. Depois observamos os telescópios por quase uma hora... Programão!

A ida à Bolívia, já contada, foi, disparada!, a nossa experiência mais engraçada até agora! Quem não viu o diário, vale ver!

Saímos de San Pedro em direção ao litoral do Pacífico. O cenário é, novamente, seco! Vale a reflexão de como realmente o Brasil é um país rico. Sem água e sem uma riqueza mineral farta, como petróleo, ferro ou diamantes, fica difícil um país como o Chile aumentar muito significativamente sua fatia no bolo mundial. Não há trabalho na completa aridez... Rumo ao Oeste chegamos ao Pacífico, mas não à umidade. Continuava muito seco, mesmo ao lado do mar. O cenário é bonito, com dunas descendo direto ao mar e sendo cortadas pela estrada. Diferente e belo. Em direção ao Norte, desembarcamos em uma cidade chamada Iquique, uma das últimas do Chile em seu limite superior. Continuando a comparação com o litoral norte do Rio, Iquique estaria mais pra Cabo Frio. Pra não correr o risco de ofender ninguém, a piada vai ficar pra quem conhece Cabo Frio no carnaval ou no réveillon!... Aproveitamos pra matar as saudades do clima de Cabofolia e ficamos todo o fim de semana. Foi bom dar umas voltas de bicicleta e respirar um pouco melhor, além de, finalmente, sentarmos para tomar umas cervejas menos moderadamente! Na altitude não é aconselhado. Ponto pro litoral!

Em Iquique aproveitei para fazer uma manutenção no Pezão. Depois de uma subida arenosa no caminho pra San Pedro, da poeirada do Atacama e de mais de cinco mil rodados, fiz a troca de todos os óleos e da graxa, além de um banho. Um dos bujões emperrou e tive que fazer uma visita a um soldador pra resolver a questão. A oficina era muito simples e os caras ficaram vidrados com o Pezão. Valeu até a foto. Vale conferir o semblante da equipe! Os figuras eram tão engraçados quanto aparentam ser!

Partimos em direção ao Peru. À frente, duas imigrações. Algo chato que vamos ter que nos acostumar. Passamos sem problemas e aqui estamos no Peru, em uma pequena cidade, bem próxima do Chile, chamada Tacna.

O tempo está passando, e as experiências que se acumulam ajudam a espantar as saudades dos familiares e dos amigos. Nesta difícil tarefa de estar longe de quem se gosta, todos os contatos que recebemos, seja por email, Skype ou comentários, são peças preciosas. A vocês fica aqui o agradecimento e o até logo! Daremos notícias!






 
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